21 de novembro de 2014

'Outono na rua Brookling' - Parte III


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Me decepcionei quando olhei para aquele rosto e não encontrei quem eu esperava que fosse. Não era ele! Um Senhor barbudo e sério aproximou-se de mim e, sem muitas palavras, me entregou uma carta. Em seguida, virou as costas e foi embora. Eu o chamei novamente e agradeci. Estava ansiosa para ler o que tinha escrito. Eufórica, rasguei o envelope com pouco cuidado imaginando que fosse uma notícia ou mais uma brincadeira romântica do Victor. Era óbvio! Ele sempre me presenteava com uma surpresa diferente, cheio de ideias e criatividade como só ele.

Enquanto lia aquelas linhas preenchidas com uma letra legível e bela, me deparei com o momento mais barulhento e devastador da minha vida, desde quando descobri essa doença exaustiva que trago nos meus dias.

 De início não acreditei no que estava lendo e por um momento de delírio avistei, do outro lado da rua, o Victor aparecer com um buquê de flores na mão, me presenteando com aquele sorriso brilhante capaz de iluminar o céu e o universo ao meu redor. Uma lembrança que foi interrompida por duas crianças que passaram correndo, tentando pegar borboletas que voavam leves e coloridas. Voltei à realidade e reli a carta que dizia:

“Meu amor, meu doce amor! Como você está linda e mais feliz. Eu não pude deixar de reparar o brilho maior que te envolveu no dia de hoje. Estive te observando de longe, mas preferi não ir até você e tornar esse momento um pouco mais fácil. Infelizmente um destino mais forte vai nos separar, mas onde quer que eu esteja eu estarei pensando em você me culpando por ter partido o seu coração dessa maneira. Também não está sendo fácil para mim, te ver e não me aproximar. Mas é assim que tem que ser! Prometa que você não fará por onde me encontrar logo! Eu preciso que você fique aqui para regar as rosas amarelas que costumávamos colher. Não as deixe murchar. O meu amor por você foi regado hoje mais uma vez e nossa história irá ficar pra sempre marcada nas ruas do outono dessa cidade. Lia, apesar de ter sido tão bom e maravilhoso, preciso ir embora sem você. Sei que nunca irá me perdoar por te deixar sem, ao menos, uma explicação e não cumprir a minha promessa. Quem sabe um dia você me perdoe e nos encontremos numa mesma dimensão. Mas eu preciso seguir o meu caminho. Até um dia, talvez. Vai ser melhor assim. Te amo.
Beijos,
Vic.”

Lágrimas começaram a cair molhando a folha de papel rabiscado com palavras tristes, que definiram os meus dias dali em diante. E eu gritava ao céu para que o meu grande amor voltasse; implorava que fosse apenas uma brincadeira, um surto do infinito e que logo ele apareceria me trazendo flores amarelas e caminharíamos de mãos dadas, como de costume. No entanto, a realidade era só uma: um pedaço de mim foi levado embora e agora restava pouco para o nada. 



Um comentário:

  1. O que dizer? E como explicar tudo que sentir ao ler esse trecho com apenas palavras...? Há ou não há? Viver e não ver. Sentir, pra que sentir?Tantas coisas em um todo, que o tudo no todo pra nós é um simples encontro da dúvida com o vazio. Sinto nisso tudo um grande eco, que ressoa e ressoa com um barco perdido na imensidão do mar de amar. Naufraguei-me então na triste solidão...
    Muita emoção e fico a espera do próximo que está por vir.

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